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Anos 70, extravagância, morte e ressurreição do rock

25-03-2009 10:43

    Os anos 70 começaram, na verdade, ainda no final dos anos 60 com o fim dos Beatles. O rock começou a seguir diferentes caminhos. Mas, de todas os caminhos percorridas pelo rock ao longo dos anos 70, apenas uma o salvaria.

    A década começou com o predomínio de dois estilos que transformaram os músicos em semi-deuses, os grupos em super bandas e os shows em grandiosos espectáculos. De um lado, o rock progressivo de Yes , Pink Floyd e Emerson, Lake & Palmer, do outro, o heavy metal de Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple. Tanto um quanto outro introduziram longas canções, com longos solos de cada instrumento, letras obscuras e harmonias e melodias mais sofisticadas com influências da música erudita. Apesar das obras-primas que geraram, da virtuosa musica que apresentaram e dos discos e shows inesquecíveis que realizaram, o rock progressivo e o heavy metal fizeram quase tudo ao contrário do que o rock original propôs. Numa era de crise económica mundial, causada em boa parte pelo aumento vertiginoso do preço do petróleo, o rock tornou-se algo grandioso demais. Para muitos dos adolescentes, cujas famílias sofreram com o desemprego e o empobrecimento que atingiram principalmente as periferias dos grandes centros urbanos, tornou-se inacessível ir a um dos shows ou comprar os discos duplos que viraram moda.

 

    Á esquerda os Pink Floyd e á direita os Led Zeppelin.

O rock progressivo havia surgido na segunda metade da década de 60 intimamente ligado à contracultura, principalmente no Reino Unido. Sem utilizar o ritmo, a batida padrão do rock, o progressivo investe em melodias e harmonias grandiosas, com uma certa atmosfera electrónica, misteriosa e futurista e com letras fantásticas, obscuras e às vezes amedrontadoras. Um tipo de rock para se ouvir sentado, já que ele não era nada dançante. Ao longo dos anos 70, além de uma musicalidade quase sinfónica, os efeitos visuais de luz e projecções dominaram os shows das principais bandas de rock progressivo.

    Além do rock progressivo, outro estilo que emerge do final dos anos 60 é o heavy metal. Com um andamento mais acelerado do que o rock convencional, com predomínio dos sons das guitarras, o heavy metal foi ironicamente uma reacção aos excessos do rock progressivo. Baseado na formação tradicional (voz, guitarra, baixo e bateria), o estilo propunha um retorno ao básico do rock. Fortemente influenciados pelo blues tradicional norte-americano, os principais grupos de heavy metal, como os Led Zeppelin e os Black Sabbath, traziam músicos extremamente virtuosos. Nas letras das canções há o predomínio de uma influência mística, dos rituais celtas às simbologias bíblicas ou egípcias, e também um forte apelo ao narcisismo e ao sexismo. Com a ascensão comercial do heavy metal e do progressivo, os principais nomes desses estilos compraram aviões, fizeram mega concertos, lotando estádios, levaram ao extremo a tríade sexo, drogas e rock’n’roll e consideraram-se monstros sagrados do rock.

    Enquanto isso acontecia na primeira metade dos anos 70, o rock percorria também outros caminhos. Os Rolling Stones mantinham sua bem sucedida mistura de rock e rhythm’n’blues, lançavam álbuns históricos recheados de canções que se tornaram clássicos e ocupavam o espaço com a sua postura contra os valores dominantes. Por outros caminhos, fazia sucesso também uma quantidade de bandas britânicas, como osThe Who e The Kinks, o pop-rock de Elton John, o rock country dos Eagles e o rock autêntico e engajado de Bruce Springsteen.

    Além do rock progressivo e do heavy metal, outra vertente marcante do rock dos 70 foi o chamado glam rock ou glitter rock. Nascido como um contraponto aos hippies e ao rock progressivo, o glam rock tinha um forte apelo visual e andrógino e usava recursos teatrais nas suas apresentações. David Bowie foi uma das maiores expressões deste estilo, ao lado de grupos como T-Rex e Roxy Music.

    Após os grupos britânicos dominarem os cenários do rock desde os anos 60, a virada para os anos 70 marcou também o surgimento, a partir de Nova Iorque e de Detroit (EUA), de uma passagem que seria o embrião de um movimento que mudaria definitivamente a cara do rock no final daquela década. Em Nova Iorque, o movimento girava em torno de Andy Warhol, o multiartista pai da Pop Art, com o Velvet Underground, de Lou Reed. Em Detroit, os expoentes são Iggy Pop e os Stooges e o MC5. Estes grupos desenvolveram um rock alternativo, de vanguarda, que trazia influências diversas como o blues de Chicago, o rock psicadélico e o glam rock, com letras que tinham como temas as drogas, sadomasoquismo, prostitutas, bissexualidade e questões políticas ligadas ao pensamento de esquerda, entre outros. Enquanto o rock progressivo e o heavy metal caminhavam para shows grandiosos, com temáticas futuristas e místicas e uma sofisticação nunca antes vista no rock, a cena alternativa norte-americana virava-se para o submundo dos marginais e das classes menos favorecidas. Dali viria a semente do punk, movimento que causou uma ruptura na história do rock.

  Iggy Pop na capa do disco Raw Power (1973), dos Stooges

  Enquanto o rock caminhava para um esgotamento e uma ruptura estética e comportamental, os anos 70 viram crescer comercial e esteticamente a música pop, derivada das diferentes variações da música negra norte-americana. Um dos resultados disso foi a explosão da música de discoteca, a disco music, e do funk, canções feitas primordialmente para dançar. Naquela altura, temas que se associavam com o rock, como drogas, sexo e bissexualidade, já faziam parte de outros géneros da canção pop. Nessa mesma época começaram a surgir os primeiros experimentos do pop-rock com música electrónica. Os alemães do Kraftwerk lançaram em 1975 o álbum “Autobahn”, que se tornaria um padrão com o seu estilo hi-tech, totalmente futurista baseado em sintetizadores e bateria electrónica.

    Mas, antes do Kraftwerk atracar nos Estados Unidos e mostrar sua revolução electrónica, uma outra mais profunda estava em andamento. Os primeiros sinais já tinham sido dados pelo MC5, por Iggy Pop, os Stooges e pelos New York Dolls no começo da década. Os adolescentes que não se identificavam mais com o rock consagrado dos grandes grupos queriam uma alternativa musical que os expressasse. O rock deveria ser essa alternativa, mas um rock que voltasse às suas origens, musicalmente simples, com letras rebeldes e que fosse uma arte acessível em todos os sentidos. E isso aconteceu.

    A cena alternativa e independente de Nova Iorque girava desde 1973 em torno do clube de música CBGB (Country, Blue Grass, and Blues). Foi lá o local onde os Ramones fizeram sua primeira apresentação em 1974. Naquele mesmo ano, Pati Smith e Televisions, outros expoentes do que seria o movimento punk norte-americano, tocaram por lá também. Mas os Ramones eram a essência do punk. Garotos nova-iorquinos que não sabiam tocar muito bem os seus instrumentos, a ponto de não conseguirem tocar músicas dos outros, resolveram compor as suas próprias e tocar um rock bem precário, acelerado e agressivo. Estava estabelecido o "faça você mesmo" (do it yourself), um dos pilares da filosofia punk. Três acordes e uma atitude de sinceridade que preconizava a volta às origens do rock'n'roll tornaram o punk um momento de ruptura na trajectória do rock.

    Ramones, uma das mais conhecidas bandas Punk

O punk norte-americano, mesmo tendo os Ramones como um dos expoentes, caracterizou-se por ser um movimento de classe média influenciado pelas escolas de arte e por artistas boémios. Os grupos que se destacariam na cena punk nova-iorquina nos anos 70 provam isso, como The Patti Smith Group, Blondie e Talking Heads.

    Mas se os Ramones deram o primeiro passo para a ruptura punk, foi na Inglaterra que ela decisivamente aconteceu. O “faça você mesmo” punk encontrou uma Inglaterra em forte crise económica nos anos 70, com elevados índices de desemprego que atingiam em cheio a juventude da classe operária. Para completar a perspectiva niilista desses jovens havia a permanente ameaça de um holocausto nuclear devido á Guerra Fria, travada entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Surgiu daí o segundo pilar da filosofia punk, o "sem futuro" (no future). E é realmente a partir da Inglaterra que o movimento punk se torna internacionalmente conhecido e alcança as periferias de alguns dos principais centros urbanos do planeta.

    Ironicamente, a mais conhecida banda do movimento punk, começa como um produto de marketing. Os Sex Pistols são uma criação do empresário Malcolm McLaren e da sua esposa, a estilista Vivienne Westwood. Percebendo a importância da atitude no universo do rock, mais até do que a qualidade da música, McLaren junta dois costumeiros frequentadores de sua loja de roupas em Londres (a Sex), um dos seus funcionários e um vocalista que nunca tinha cantado antes, para formar os Sex Pistols. Eles não duraram muito (cerca de três anos e um disco), mas foi o suficiente para contagiar o resto dos jovens que queriam mudar a cara do rock. Além dos fundamentos da música punk – barulhenta, rápida e agressiva –, os Sex Pistols popularizaram um estilo de vestir e de se comportar. Os cortes de cabelo rentes, tingidos em cores brilhantes e com moicanos eram acompanhados de roupas velhas, rasgadas, cobertas com tachinhas. A partir dos Sex Pistols, vieram os The Clash, Generation X, Dead Kennedies.

    Vocais enérgicos e ritmo básico, que tornavam o punk uma música quase minimalista, levaram o crítico e estudioso de música popular Greil Marcus a afirmar que o punk-rock “era a melhor combinação sonora para expressar a ira e a frustração, para focalizar o caos, para representar dramaticamente o quotidiano como o dia do juízo final e para golpear todas as emoções entre um olhar perdido e um sorriso grande e sarcástico”.

    Com o punk, os anos 70 tinham chegado ao fim para o rock. O movimento que havia surgido para transformar o rock não só o tinha salvo, mas também tinha determinado o que seria dele nas décadas seguintes. Apesar de pregar o “no future” o punk tinha inaugurado os anos 80.

Fonte: www.hsw.uol.com.br